A Arca da Aliança, Arca de Deus ou Arca do Pacto (
hebraico:ארון הברית aróhn hab·beríth;
grego: ki·bo·tós tes di·a·thé·kes") é descrita na
Bíblia como o objeto em que as tábuas dos
Dez mandamentos teriam sido guardadas, como também veículo de comunicação entre
Deus e seu povo escolhido. Foi objeto de veneração entre os
hebreus até seu desaparecimento, que segundo especulações, ocorreu na conquista de
Jerusalém por
Nabucodonosor. Segundo o livro
deuterocanônico de II Macabeus, o profeta
Jeremias foi o responsável por escondê-la.
Os Dez Mandamentos ou o Decálogo é o nome dado ao conjunto de
leis que segundo a
Bíblia, teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta
Moisés (as Tábuas da Lei). As tábuas de pedra originais foram quebradas, de modo que, segundo
Êxodo 34:1,
Deus teve de escrever outras. Encontramos primeiramente os Dez Mandamentos em
Êxodo 20:2-17. É repetido novamente em
Deuteronômio 5:6-21, usando palavras similares.
Decálogo significa dez palavras (Ex 34,28). Estas palavras resumem a Lei, dada por Deus ao povo de Israel, no contexto da
Aliança, por meio de Moisés. Este, ao apresentar os mandamentos do
amor a Deus (os quatro primeiros) e ao próximo (os outros seis), traça, para o povo eleito e para cada um em particular, o caminho duma vida liberta da escravidão do
pecado.
De acordo com o livro bíblico de
Êxodo,
Moisés conduziu os
israelitas que haviam sido escravizados no
Egito, atravessando o
Mar Vermelho dirigindo-se ao
Monte Horeb, na
Península do Sinai. No sopé do
Monte Sinai, Moisés ao receber as duas "Tábuas da Lei" contendo os Dez Mandamentos de
Deus, estabeleceu solenemente um
Pacto (ou Aliança) entre
YHWH (ou
JHVH) e povo de Israel.
Eu sou
YHWH, teu
Deus [Jeova], que te fiz sair da terra do Egito, da casa dos escravos. Não terás outros deuses em desafio a Mim [o
Deus de
Abraão]. Não farás
imagem esculpida [em hebraico péshel, referindo-se a
ídolos], nem semelhança alguma do que há em cima nos ceús, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não adora-las-á, nem prestar-lhes-á culto, por que eu, YHWH, teu Deus, sou Deus zeloso ["Deus que exige devoção exclusiva" ou "Deus ciumento"; em hebraico El qan.ná e em grego Theós zelotes], e que puno o erro dos pais nos filhos até sobre a terceira geração e sobre a quarta geração dos que me odeiam, mas que uso de benevolência para com até a milésima geração dos que me amam e que guardam os meus mandamentos.Não tomarás o
nome de YHWH, teu Deus, em
vão [ou "dum modo fútil", blasfêmia], pois YHWH não considerá impune aquele que tomar seu nome em vão.Lembra-te do dia do
Sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o
Sábado [em hebraico, shab.báth] de YHWH, teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez YHWH o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso YHWH abençoou o dia do
Sábado, e o santificou.
Honra a teu pai e a tua mãe, a fim de que os teus dias se prolonguem sobre o solo que Não
cobiçarás [em hebraico, lo thahh.módh] a casa do teu próximo, nem a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu touro, nem seu jumento, nem qualquer coisa que pertença ao teu próximo..
YHWH,teu Deus, te dá.Não assassinarás [ou cometer
homicídio, em hebraico lo tir cá.vit].Não cometerás
adultério [em hebraico lo tin.àf].Não
furtarás.Não levantarás
falso testemunho contra teu próximo.
Torá
Os Dez Mandamentos foram entregues no
Monte Sinai ao povo hebreu, por
Deus, através de
Moisés, separadamente do restante da
Torá (ensinamentos). De acordo com a
Bíblia, os Mandamentos escritos nas duas tábuas da Lei, foram escritas pelo dedo do próprio
Deus sendo que os demais foram ditados e escritos em pergaminhos por
Moisés e ambos falados diretamente ao povo. Em hebraico (língua original dos Mandamentos), o número de letras dos Dez Mandamentos é equivalente a 613, o número total dos
mandamentos da Torá.
Divisão dos mandamentos
Os versículos 2 a 17 são a divisão natural dos Dez Mandamentos.
Flávio Josefo separa o versículo 3 como o primeiro Mandamento, os versículos 4 a 6 como o segundo mandamento, o versículo 7 é o terceiro mandamento, os versículos 8 a 11 são o quarto mandamento (o mais longo), e os versículos 12 a 17 são o quinto ao décimo mandamento (um versículo para cada mandamento) (Antigüidades Judaicas, Vol. 3, Cap. 5 §5). Outros inclusive
Agostinho consideravam os versículos 3 a 6 como 1 só mandamento, mas dividiam o versículo 17 em dois mandamentos, o nono a respeito da cobiça da mulher alheia e o décimo contra cobiçar os seus pertences. A divisão de Agostinho foi adotada pela
Igreja Católica Romana.
"Não circuncidarás." (A abolição da circuncisão do Segundo Mandamento)
Esta interpretação do Segundo Mandamento foi publicada em resumo
[1] pelo British Medical Journal como uma e-carta para o editor de 15.01.08., e íntegra, 31.01.08, por um jornal Internet americano
[2]. Foi o caso, 4.09.08, de uma conferência do décimo international simpósio de NOCIRC
[3] organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de Keele (UK).
Construção
A Bíblia descreve a Arca da Aliança da seguinte forma: caixa e tampa de
madeira de
acácia, com 2
côvados e meio de comprimento (um metro e onze centímetros ou 111 cm), e um côvado e meio de largura e altura (66,6 cm). Cobriu-se de
ouro puro por dentro e por fora. - (Êxodo 25:10 a 16)
Para seu transporte, necessário para um povo ainda nômade (nómada), foram colocadas quatro argolas de ouro nas laterais, onde foram transpassados varas de acácia recobertas de ouro. Assim, o objeto podia ser carregado pelo meio do povo.
Sobre a tampa, chamada
Propiciatório "o Kapporeth", foi esculpida uma peça em ouro, formada por dois
querubins ajoelhados de frente um para o outro, cujas asas esticadas para frente, tocavam-se na extremidade, formando um arco, de modo defensor e protetor. Eles se curvavam em direção à tampa em atitude de adoração (Êxodo 25:10-21; 37:7-9). Segundo relato do verso 22, Deus se fazia presente no propiciatório no meio dos dois Querubins de ouro em uma presença misteriosa que os Judeus chamavam
Shekinah ou presença de Deus.
A Arca fazia parte do conjunto do
Tabernáculo, com outras tantas especificações. Ela ficaria repousada sobre um altar, também de madeira coberto de ouro, com uma coroa de ouro ao lado.
Somente os
sacerdotes levitas poderiam transportar a tocar na arca, e apenas o Sumo-Sacerdote, uma vez por ano, no dia da expiação, quando a Luz de Shekiná se manifestava, entrava no santíssimo do templo. Estando ele em pecado, morreria instantaneamente.
Outros relatos bíblicos se referem ao roubo da arca por outros povos inimigos de
Israel (filisteus), que sofreram chagas e doenças enquanto tinham a arca em seu poder. Homens que a tocavam que não fossem levitas ou sacerdotes morriam instantaneamente. Diante dessas terríveis doenças causadas pela presença da Arca do Senhor Deus de Israel, os filisteus se viram numa necessidade de se livrarem do objeto de adoração, então, a mandaram para a cidade de Gate, e logo após para Ecron, sendo sempre rejeitada, o que acarretou na sua devolução ao povo de Israel...
Função e simbologia
A partir do momento em que as tábuas dos
Dez Mandamentos,a
Vara de Arão que floresceu(que não só floresceu mais que também brotou améndoas) e o pote de
maná escondido foram repousadas no seu interior, a Arca é tratada como o objeto mais sagrado, como a própria representação de Deus na Terra. A Bíblia relata complexos rituais para se estar em sua presença dentro do Tabernáculo.
Segundo a Bíblia, Deus revelava-se como uma fumaça que se manifestava com sua shekiná(Presença) entre os querubins que tinham asas de anjos, corpo de homem e rosto de bebê, e que estavam ligados em baixo pelos joelhos em cima do propciatório e ligados em cima pelas asas que sendo assim formava um circulo entre eles (simbolizando tudo que é ligado na terra Também será ligado no céu) e era justamente onde estava a shekiná e era ali que DEUS falava com Moises. Tocá-la era um ato tolo, pois quem a tocasse era logo morto pela ira de DEUS, razão pela qual existiam varas para seu transporte.
A Arca como instrumento de guerra
A Arca representava o próprio Deus entre os homens. A crença de Sua presença ativa fez com que os hebreus, por várias vezes, carregassem o objeto à frente de seus exércitos nas batalhas realizadas durante a conquista de
Canaã. Inicialmente, a presença da Arca era suficiente para que pequenos contingentes hebreus aniquilassem exércitos cananeus inteiros. Mas quando dispensavam-na, sofriam derrotas desastrosas.
Ainda restava o assentamento das sete
Tribos de Israel na Terra de
Canaã para que a conquista estivesse completa, quando
Josué determinou a construção de um Tabernáculo permanente na cidade de
Siló, onde a Arca ficaria protegida.
A captura da Arca pelos Filisteus e seu retorno
Nos últimos anos do período dos
Juízes de Israel, a Arca da Aliança era guardada pelo sacerdote Eli, e seus filhos Hofni e Finéias. O profeta Samuel, ainda jovem, recebeu uma revelação divina condenando os mesmos ao julgamento, devido a crimes cometidos.
Neste tempo, segundo o relato bíblico, os
filisteus invadiram a
Palestina, vencendo o exército israelita próximo à localidade de Ebenézer. Estes, vendo-se em situação adversa, apelaram para a Arca, e a trouxeram de Siló. A maldição sobre Eli teria tido lugar, pois a Arca não surtiu efeito na batalha: os israelitas foram derrotados, e o objeto capturado. Os filhos de Eli foram mortos, e este, ao saber da notícia, caiu de sua cadeira e morreu com o pescoço quebrado.
Os filisteus teriam tomado a Arca como despojo de guerra, e a levaram ao templo de
Dagom, em
Asdode. O relato bíblico conta que a simples presença do santuário naquele local foi o suficiente para que coisas estranhas ocorressem: por duas vezes, a cabeça da estátua de Dagom apareceu cortada. Em seguida, moléstias (
hemorróidas, especificamente, além de um surto de
ratos) teriam assolado a população de Asdode, inclusive príncipes e sacerdotes filisteus, o que fez com que a arca fosse transportada para
Ecrom, outra cidade filistéia. Porém, a população local reagiu negativamente à sua presença, e a enviou de volta ao território de Israel numa carroça. O tempo de permanência da Arca na Filístia teria sido de sete meses.
A carroça, puxada por
vacas, parou em
Bete-Semes, onde foi recebida por um certo Josué (personagem diferente do Josué, comandante da Conquista de Canaã). Os bete-semitas, movidos pela curiosidade, olharam para o interior da Arca, e morreram instantaneamente. Em seguida, foi transportada para
Quireate-Jearim, onde ficou aos cuidados de Eleazar por 20 anos.
A Arca em Jerusalém e o Templo de Salomão
No início de seu reinado,
Davi ordenou que a Arca fosse trazida para
Jerusalém, onde ficaria guardada em uma tenda permanente no distrito chamado Cidade de Davi. Com o passar do tempo, Davi tomou consciência de que a Arca, para ele símbolo da presença de Deus na Terra, habitava numa tenda, enquanto ele mesmo vivia em um palácio. Então começou a planejar e esquematizar a construção de um grande Templo. Entretanto, esta obra passou às mãos de seu filho
Salomão.
No
Templo, foi construído um recinto (chamado na Bíblia de "
oráculo") de
cedro, coberto de ouro e entalhes, dois enormes querubins de maneira à semelhança dos que havia na Arca, com um altar no centro onde ela repousaria. O ambiente passou a ser vedado aos cidadãos comuns, e somente os levitas e o próprio rei poderiam se colocar em presença do objeto sagrado.
Desaparecimento
A Arca permaneceu como um dos elementos centrais do culto a Deus praticado pelos israelitas durante todo o período monárquico, embora poucas referências sejam feitas a ela entre os livros de
Reis e
Crônicas.
Em
587 a.C (ou
607 a.C, segundo alguns estudiosos),
Nabucodonosor, rei da
Babilônia, invadiu o reino de
Judá e tomou a cidade de Jerusalém. O relato bíblico menciona um grande incêndio que teria destruído todo o templo. A Arca desaparece completamente da narrativa a partir desse ponto, e o próprio relato é vago quanto ao seu destino.
Para os
católicos e
judeus da diáspora, que se utilizam da
Septuaginta, Escrituras Sagradas na versão grega dos LXX, o desaparecimento da Arca é narrado no livro de II Macabeus, não aceito pelos
protestantes e por grande parte dos
judeus que só aceitavam as escrituras em hebraico. Nessa situação o profeta Jeremias haveria mandado que levassem a Arca até o monte Nebo para ali a esconder em uma caverna (II MAC Cap. 2).
" O escrito mencionava também como o profeta, pela fé da revelação, havia desejado fazer-se acompanhar pela arca e pelo tabernáculo, quando subisse a montanha que subiu Moisés para contemplar a herança de Deus. No momento em que chegou, descobriu uma vasta caverna, na qual mandou depositar a arca, o tabernáculo e o altar dos perfumes; em seguida, tapou a entrada. Alguns daqueles que o haviam acompanhado voltaram para marcar o caminho com sinais, mas não puderam achá-lo. Quando Jeremias soube, repreendeu-os e disse-lhes que esse lugar ficaria desconhecido, até que Deus reunisse seu povo e usasse com ele de misericórdia. Então revelará o Senhor o que ele encerra e aparecerá a glória do Senhor como uma densa nuvem, semelhante à que apareceu sobre Moisés e quando Salomão rezou para que o templo recebesse uma consagração magnífica." (II Mac, 2, 4-7, Bíblia Ave-Maria).
Como os relatos bíblicos afirmam que somente os israelitas descententes de Aarão (Da tribo de Levi) poderiam transportá-la, qualquer não-levita seria consumido por Deus ao tocá-la, por isso é improvável que a mesma tenha sido destruída.
A busca pela Arca
Não há certezas acerca de sua existência ou destruição. É possível que, antes de atear fogo ao Templo, os soldados de Nabucodonosor tenham tomado todos os objectos de valor (incluindo a arca coberta de ouro) e a levado como prémio pela conquista.
Uma vez em posse dos babilónicos, ela pode ter sido destruída para se obter o ouro, ou conservada como troféu. Babilónia também foi conquistada posteriormente por
persas,
macedónios,
partos e outros tantos povos, e seus tesouros (incluindo possivelmente a Arca) podem ter tido incontáveis destinos.
De qualquer modo, ela tem sido um dos tesouros
arqueológicos mais cobiçados pela humanidade, e inúmeras expedições à
Mesopotâmia e à
Palestina foram realizadas, sem sucesso. Existem hoje em vários museus réplicas da Arca baseadas nas descrições bíblicas, mas a verdadeira jamais foi encontrada.
O cineasta
George Lucas inspirou-se na busca pela Arca para o roteiro de seu filme
Raiders of the Lost Ark (intitulado Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, no Brasil; Indiana Jones e os Salteadores da Arca Perdida, em Portugal).
Para muitos a Arca foi trazida pelo filho do Rei Salomão, com a
Rainha de Sabá (rainha da atual Etiópia). E está guardada em um templo na cidade de
Aksum, na Etiópia, onde um único Sacerdote pode vê-la.